Este material tem como propósito dar visibilidade à baixa visão usando a trajetória de Anne Sullivan como fio condutor para embasar a pauta e abrir conversa com gestores, profissionais e a sociedade. O documento adota o formato de artigo de posicionamento, organizado de forma clara e direta e sustentado por fontes confiáveis, para facilitar leitura por pessoas com baixa visão e tradução para outros idiomas. O uso imediato inclui distribuição no congresso, envio a entidades e conselhos, e anexação em ofícios e e-mails de advocacy, servindo como peça de apoio em apresentações curtas e no contato com redes nacionais e internacionais.
A baixa visão ainda passa batida na conversa de todos os dias e, muitas vezes, nas rotinas de atendimento. Muita gente associa deficiência visual apenas à cegueira total, como se fosse um tudo ou nada. Quem enxerga pouco, com imagem borrada, linhas faltando, halos ou perda de contraste, fica sem nome próprio em uma faixa cinzenta. Essa falta de nome atrapalha muita coisa, confunde a porta de entrada na saúde, atrasa o laudo que libera recursos e dificulta combinações simples, como ajustar tamanho de fonte, melhorar a iluminação, organizar o espaço de circulação e escolher tecnologias assistivas que funcionem para cada caso. Quando a experiência não tem rótulo claro, a pessoa acaba empurrada para a invisibilidade, mesmo estando o tempo todo em cena.
A confusão entre cegueira e baixa visão não é detalhe técnico, mexe com direitos, estudo, trabalho e mobilidade. Uma criança que aproxima o rosto do caderno para ler, um idoso que tropeça por falta de contraste no piso, uma vendedora que luta para decifrar rótulos em letra miúda, todas essas situações revelam limites que pedem soluções específicas, diferentes daquelas pensadas para quem não percebe luz alguma. Dar nome à baixa visão ajuda a construir uma sequência de cuidado, começando pela triagem que identifica o perfil, seguindo para o encaminhamento correto, a reabilitação visual, a oferta de lentes e lupas, o treino de orientação e mobilidade e as adaptações que organizam o dia a dia. Quando a rota é clara, os serviços deixam de ser uma loteria e passam a entregar respostas mais justas.
Campanhas de saúde ocular e datas do calendário costumam falar de visão em termos gerais ou miram a cegueira como foco único. Essa escolha tem valor, porém deixa de fora milhões de pessoas que enxergam com limite e precisam de outra chave de leitura. Incluir a baixa visão como eixo próprio muda o desenho das ações. Materiais passam a nascer com fonte ampliada e contraste adequado, as peças de comunicação adotam linguagem direta e exemplos práticos, e o passo a passo para solicitar apoio na escola, no trabalho e nos serviços públicos aparece sem rodeio. A mesma lógica vale para a cidade. Sinalização com alto contraste, degraus marcados, indicação sonora em semáforos e superfícies táteis bem distribuídas organizam a vida de quem precisa de pistas visuais mais fortes para seguir com autonomia e segurança.
Anne Sullivan como Inspiração
Anne Sullivan, educadora de Helen Keller, viveu a baixa visão e mostrou como apoio,
método e tecnologia podem redefinir destinos.
Sua trajetória é um farol para
entendermos que o que chamam de “superação” é, na verdade, fruto de suporte bem
organizado e de ambientes preparados para a autonomia.
É uma condição em que a pessoa mantém resíduo visual, mas com perda permanente
mesmo após óculos, lentes ou cirurgia.
Ela impacta a leitura, a mobilidade, o
reconhecimento de rostos e atividades diárias. Nomear corretamente essa condição
facilita diagnósticos, libera recursos e orienta ações práticas em saúde, educação,
trabalho e cidade.
Campanha anual. A proposta é instituir uma campanha recorrente com slogan próprio, materiais em fonte ampliada e contraste alto, linguagem direta e exemplos do dia a dia. Um mote como Enxergar diferente é enxergar ajuda a fixar a mensagem de que ver com restrição não é ausência de visão e demanda arranjos específicos. O pacote inclui cartazes legíveis, cards digitais com leitura fácil, spots curtos de rádio, vídeos legendados e uma página com orientações simples para famílias, escolas e serviços. O calendário pode se ancorar em dezembro e manter ações ao longo do ano. A ênfase em comunicação clara se justifica pela carga global das condições que afetam a visão.
Linha de Cuidado em Saúde
Linha de cuidado na saúde. O segundo pilar organiza triagem, referência e reabilitação com metas por município. A triagem considera acuidade e campo visual e identifica sinais de ofuscamento, perda de contraste e dificuldade funcional. O fluxo de referência aponta para oftalmologia e para serviços de reabilitação visual, com devolutiva escrita em linguagem simples. O plano de município define metas factíveis, como tempo máximo de espera, número de avaliações funcionais por mês e concessão de auxílios ópticos. Para não virar lista solta, cada meta precisa de medição e responsável. O uso de definições claras de baixa visão guia essas decisões e reduz ruído nas portas de entrada.
Educação Inclusiva
Educação inclusiva. O quarto eixo concentra ações simples para professores e equipes escolares. Um guia rápido reúne recomendações de tamanho de fonte, espessura de traço, espaçamento entre linhas, posição do estudante na sala, tempo ampliado em avaliações, organização de contrastes no material impresso e digital e uso de leitores de tela e ampliadores. A escola define um ponto focal por turno para apoiar ajustes e garantir que o estudante tenha os recursos disponíveis desde o primeiro dia. Reuniões curtas com famílias e profissionais de saúde alinham expectativas e evitam a troca infinita de bilhetes sem solução prática. Políticas educacionais mostram que o fosso entre norma e sala se fecha quando o roteiro é claro e verificável.
Trabalho e Renda
Trabalho e renda. O quinto eixo trata de adaptação de posto, tecnologia assistiva e desenho de rotinas. Orientações incluem ajuste de brilho e contraste do monitor, ampliação de interface, teclas de atalho, leitores de tela quando necessário, lupas eletrônicas para tarefas específicas e reorganização de atividades que exigem leitura miúda. A empresa cria um plano de adaptação com prazos e responsável e registra o que funcionou para compartilhar com outras áreas. Para quem está em transição, sessões de orientação rápida por videochamada ajudam a calibrar recursos e treinar o uso no próprio ambiente de trabalho, o que reduz a curva de aprendizado e aumenta a permanência.
Cidade Acessível
Cidade acessível. O sexto eixo olha para circulação e orientação. Medidas de baixo custo incluem contraste nas bordas de degraus, guia rebaixada bem marcada, iluminação estável em pontos de ônibus e travessias, placas com boa legibilidade e semáforos com indicação sonora em cruzamentos complexos. A manutenção dessas soluções precisa de rotina, pois tinta e dispositivos se desgastam. Mapas de trajeto com pictogramas e letras legíveis ajudam em corredores de serviços públicos. Treinos de orientação e mobilidade que usam trajetos reais da pessoa funcionam como ponte entre técnica e vida comum. Essa combinação mexe diretamente com autonomia e segurança.
Dados e Monitoramento
Dados para governar a agenda. A inclusão de baixa visão nos painéis de saúde, educação e assistência permite enxergar filas, cobertura de concessão de auxílios, adesão à reabilitação e retorno a estudo e trabalho. Inquéritos nacionais revelam vínculos entre condição visual, renda e escolaridade, o que orienta a priorização territorial. A gestão local pode criar um painel simples, com atualizações mensais, e publicar metas e resultados para dar transparência e atrair parceiros. Quando os dados mostram onde a dor aperta, a política sai da improvisação e passa a distribuir recursos conforme necessidade real e impacto na vida cotidiana.
Conclusão
Amarrando as seis frentes, a governança precisa de uma sala de situação leve, com reuniões periódicas e participação de quem usa o serviço. O grupo acompanha metas, ajusta rotas e documenta aprendizados para evitar reinvenção a cada troca de gestão. Essa disciplina não é burocracia a mais, é o mecanismo que protege a agenda e facilita a entrada de novas soluções conforme a ciência atualiza recomendações clínicas e funcionais. O objetivo é garantir que cada pessoa com baixa visão encontre porta, caminho e resultados, com comunicação clara e apoio contínuo ao longo da vida ativa.
“Eu sou Renato, pessoa com baixa visão. Demorei para entender o nome do que sentia,
mas quando recebi o diagnóstico, ganhei um mapa para caminhar com clareza.
Descobri que o problema não era eu, mas os ambientes que não estavam preparados.
Hoje, transformo minha experiência em proposta prática, para que a baixa visão tenha
nome, direitos e políticas que durem no tempo.”
Formação de Renato Moreira dos Santos
Participação em eventos nacionais e internacionais sobre deficiência visual, incluindo o Congresso Internacional da Deficiência Visual (2025).
Produção acadêmica e de advocacy: autor do artigo Anne Sullivan e a pauta da baixa visão: memória, reconhecimento e direitos.
Formação prática em direitos da pessoa com deficiência, com participação no Encontro de Rede sobre Direitos da Pessoa com Deficiência (2023, 2h) certificados renato
Atuação como conselheiro e articulador de políticas públicas voltadas à acessibilidade, reabilitação e inclusão.
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